
Alguns clipes impressionam pelo orçamento.
Outros, pela ideia.
“Ancient Road” vence porque acerta nos dois, mas principalmente no conceito.
O Chamas Underground 2025 elegeu a Santa Cora como Melhor Clipe do ano, e não foi difícil entender o porquê. Em um cenário onde muitos vídeos ainda funcionam apenas como vitrine da banda tocando, “Ancient Road” vai além: é narrativa, estética e música caminhando juntas.
Lançado em setembro de 2025, o clipe já nasceu com cara de obra maior. Ele funciona como peça-chave do universo conceitual da banda paulista, abrindo os caminhos para o novo álbum e aprofundando a jornada da personagem Cora, apresentada anteriormente em Elementum.
Uma estrada que não é só visual
Inspirado em cenários desérticos e distópicos, com referências claras à saga Mad Max e a imaginários pós-apocalípticos, o conceito visual de “Ancient Road” não existe apenas para impactar. Ele dialoga diretamente com a música e com a narrativa do disco.
A estrada antiga do título não é apenas física. Ela simboliza risco, travessia e escolha. Seguir em frente aqui não é confortável, nem seguro. E o clipe entende isso muito bem, apostando em imagens áridas, figurinos marcantes e uma direção que trabalha contraste o tempo todo: beleza e hostilidade, grandiosidade e solidão.
Nada ali é aleatório. Capa, clipe, fotos e figurinos fazem parte do mesmo eixo conceitual, algo ainda raro de ver no underground sendo executado com tanta coesão.
Música que sustenta a imagem
Nada disso funcionaria se a música não estivesse à altura.
E “Ancient Road” está.
A faixa traz melodias comoventes, riffs marcantes e solos que equilibram técnica e emoção, reforçando a identidade da Santa Cora como uma banda que sabe unir metal moderno, progressivo, sinfônico, melódico, ritmos brasileiros e música clássica sem soar excessiva.
O uso do coral lírico, com participação de fãs e apoiadores, amplia ainda mais o impacto da obra. Não é só recurso estético. É escolha narrativa. A música vira ritual coletivo e extrapola o estúdio, conectando banda e público dentro da própria obra.
Competência que se confirma no tempo
E talvez o detalhe mais importante dessa vitória seja o que aconteceu logo depois.
Enquanto “Ancient Road” seguia acumulando visualizações e reconhecimento, a Santa Cora mostrou que não vive de um único acerto. Em dezembro de 2025, a banda lançou “Panic Nation”, mais um videoclipe ambicioso que reforça, sem esforço, a consistência dessa nova fase.
Com estética cinematográfica, atmosfera dramática e um senso claro de urgência, “Panic Nation” amplia o universo da banda e acende ainda mais as expectativas para o novo álbum. A música trabalha contrastes entre grandiosidade, peso e emoção, enquanto o clipe acompanha essa energia com imagens fortes e narrativa envolvente.
O recado fica claro: o reconhecimento de “Ancient Road” não é ponto fora da curva. É parte de um processo criativo sólido, contínuo e bem planejado.
Por que venceu
“Ancient Road” não venceu como Melhor Clipe apenas por ser bonito ou bem produzido. Venceu porque entende o videoclipe como extensão da obra, não como acessório promocional.
É um trabalho que respeita o público, confia na própria proposta e aposta na construção de universo, algo que poucas bandas independentes encaram com tanta seriedade. E quando essa proposta se confirma em lançamentos seguintes, como “Panic Nation”, o argumento se torna irrefutável.
A Santa Cora mostra que clipe ainda pode ser arte, narrativa e experiência.
E o Chamas Underground existe exatamente pra isso: jogar luz onde há entrega real, visão artística e consistência.
Se essa estrada é antiga, o caminho que a Santa Cora está abrindo é tudo menos previsível.
Metal Never Die.






